24/01/2019

As competências do Serviço Social na contemporaneidade

Se no momento da origem do Serviço Social como uma prossão inscrita na divisão do trabalho, era apenas a sua dimensão técnica que lhe garantia os estatutos de ecácia e competência prossional (isto é, era a forma e os resultados imediatos de sua ação que lhe garantiam legitimidade e reconhecimento da sociedade), o Movimento de Reconceituação buscou superar essa visão unilateral. No universo das diversas correntes que atuaram nesse movimento, a principal motivação era dar ao Serviço Social um estatuto científico. E mais propriamente, no âmbito da corrente que Netto (2004) denominou de “Intenção de Ruptura” (que para ele significa o rompimento com as visões conservadoras da profissão), foi levantada a necessidade de que a profissão se debruçasse sobre a produção de um conhecimento crítico da  realidade social, para que o próprio Serviço Social pudesse construir os objetivos e reconstruir objetos de sua intervenção, bem como responder às demandas sociais colocadas pelo mercado de trabalho e pela realidade. Assim, pôde o Serviço Social aprofundar o diálogo crítico e construtivo com diversos ramos das chamadas Ciências Humanas e Sociais (Economia, Sociologia, Ciência Política, Antropologia, Psicologia).

A partir de então, entramos no período em que os autores contemporâneos da profissão chamam de “maturidade acadêmica e profissional do Serviço Social” (Netto, 1996), que procurou definir novos requisitos para o status de competência profissional. Iamamoto (2004), após realizar uma análise dos desafios colocados ao Serviço Social nos dias atuais, apontou 03 dimensões que devem ser do domínio do Assistente Social:

Competência ético-política – o Assistente Social não é um prossional “neutro”. Sua prática se realiza no marco das relações de poder e de forças sociais da sociedade capitalista – relações essas que são contraditórias. Assim, é fundamental que o prossional tenha um posicionamento político frente às questões que aparecem na realidade social, para que possa ter clareza de qual é a direção social da sua prática. Isso implica em assumir valores ético-morais que sustentam a sua prática – valores esses que estão expressos no Código de Ética Prossional dos Assistentes Sociais(Resolução CFAS nº 273/93)5, e que assumem claramente uma postura prossional de articular sua intervenção aos interesses dos setores majoritários da sociedade;

• Competência teórico-metodológica – o profissional deve ser qualificado para conhecer a realidade social, política, econômica e cultural com a qual trabalha. Para isso, faz-se necessário um intenso rigor teórico e metodológico, que lhe permita enxergar a dinâmica da sociedade para além dos fenômenos aparentes, buscando apreender sua essência, seu movimento e as possibilidades de construção de novas possibilidades profissionais;

Competência técnico-operativa – o profissional deve conhecer, se apropriar, e, sobretudo, criar um conjunto de habilidades técnicas que permitam ao mesmo desenvolver as ações profissionais junto à população usuária e às instituições contratantes (Estado, empresas, Organizações Não-governamentais, fundações, autarquias etc.), garantindo assim uma inserção qualificada no mercado de trabalho, que responda às demandas colocadas tanto pelos empregadores, quanto pelos objetivos estabelecidos pelos profissionais e pela dinâmica da realidade social.

Essas três dimensões de competências nunca podem ser desenvolvidas separadamente – caso contrário, cairemos nas armadilhas da fragmentação e da despolitização, tão presentes no passado histórico do Serviço Social (Carvalho& Iamamoto, 2005).

Contudo, articular essas três dimensões coloca um desafio fundamental, e que vem sendo um tema de grande debate entre profissionais e estudantes de Serviço Social: a necessidade da articulação entre teoria e prática. Investigação e intervenção, pesquisa e ação, ciência e técnica não devem ser encaradas como dimensões separadas– pois isso pode gerar uma inserção desqualificada do Assistente Social no mercado de trabalho, bem como ferir os princípios éticos fundamentais que norteiam a ação profissional:

O que se reivindica, hoje, é que a pesquisa se afirme como uma dimensão integrante do exercício profissional, visto ser uma condição para se formular respostas capazes de impulsionara formulação de propostas profissionais que tenham efetividade e permitam atribuir materialidade aos princípios ético-políticos norteadores do projeto profissional. Ora, para isso é necessário um cuidadoso conhecimento das situações ou fenômenos sociais que são objeto de trabalho do assistente social (IAMAMOTO:2004; p. 56).

Pensar sob esse ponto de vista significa colocar o Serviço Social em um lugar de destaque, tanto no plano da produção do conhecimento científico (rompendo com o discurso do senso comum) como no âmbito das instituições públicas e privadas que, de algum modo, atuam sobre a "questão social”.

O Assistente Social ocupa um lugar privilegiado no mercado de trabalho: na medida em que ele atua diretamente no cotidiano das classes e grupos sociais menos favorecidos, ele tem a real possibilidade de produzir um conhecimento sobre essa mesma realidade. E esse conhecimento é, sem dúvida, o seu principal instrumento de trabalho, pois lhe permite ter a real dimensão das diversas possibilidades de intervenção profissional.

Assim, o processo de qualificação continuada é fundamental para a sobrevivência no mercado de trabalho. Estudar, pesquisar, debater temas, reler livros e textos não podem ser atividades desenvolvidas apenas no período da graduação ou nos “muros” da universidade e suas salas de aula .Se no cotidiano da prática profissional o Assistente Social não se atualiza, não questiona as demandas institucionais, não acompanha o movimento e as mudanças da realidade social, estará certamente fadado ao fracasso e a uma reprodução mecânica de atividades, tornando-se um burocrata, e, sem dúvidas, não promovendo mudanças significativas seja no cotidiano da população usuária ou na própria inserção do Serviço Social no mercado de trabalho.

Texto retirado do artigo "A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional" de Charles Toniolo de Souza  

Fonte:https://servicosocial-erenilza.blogspot.com

23/01/2019

COMO ESCOLHER O TEMA DE SUA MONOGRAFIA OU TCC

Inicialmente, antes mesmo de se levar em consideração os fatores envolvendo o "tema" de uma monografia ou de um TCC, deve-se refletir profundamente sobre as razões motivadoras que o levam a querer escrever um texto monográfico.
É uma obrigação, um prazer, por sua própria vontade ou não, ou ainda existe um resultado a ser obtido: tudo deve ser pesado e levado em consideração inicialmente.
A partir da definição deste ponto, pode-se passar para uma abordagem mais direta sobre o tema, diretamente, de sua monografia.
Nesta fase, você ainda não terá respostas, mas... mais perguntas. A definição do tema pode ser de livre escolha? Quais as influências ligadas a tal procedimento?
Geralmente, as respostas para esta segunda fase do processo de seleção do tema estão conectadas de maneira direta às respostas isoladas na primeira fase.
Aqui, caso tenha a obrigação de redigir um trabalho monográfico devido a cumprimento de obrigações em seu curso, deverá contar com o auxílio de um elemento primordial para o seu sucesso: o orientador de monografias.
O grau de complexidade do tema monográfico está ligado também ao resultado que você deseje alcançar. Monografias podem ser trabalhadas de modo profundo ou em um nível mais leve, e isto pode ocorrer com todas as temáticas.
Um procedimento que pode ser muito útil é a estruturação de um projeto de pesquisa.
Faça um projeto de pesquisa para auxiliar Um projeto de pesquisa exigirá a “desconstrução” do tema, a partir de processos próprios, que avaliarão não somente se a temática é importante ou se você terá condições de levar adiante uma monografia ou um TCC sobre o assunto. Você pode se perguntar: - Eu imaginava que fosse mais fácil selecionar uma temática para monografias, seria escolher o que gosto, ou o que o orientador mandar. Ora, se quiser você pode simplesmente fazer isso, mas os riscos são muito grandes, senão vejamos:
- Se você descobrir que não gosta do tema no meio do processo será mais difícil alterá-lo.
- Se o assunto é interessante, mas você descobrir no final que não terá meios de cumprir o que deveria, por falta de bibliografia, por falta de um caso prático que seria necessário ou por outro fator.
Como o processo de escrita de uma monografia é relativamente longo, às vezes levando mais de um ano, um problema destes, descoberto tardiamente, poderá atrasar você.
Assim, dedique-se arduamente à seleção do melhor tema para seu trabalho de cunho monográfico.
Não se envergonhe ao procurar auxílio, selecione as bibliografias para sua monografia, faça de tudo para facilitar o seu trabalho posterior já neste primeiro momento. O assunto de sua monografia acompanhará você em uma longa jornada.

OS ERROS MAIS COMUNS EM RELAÇÃO A TEMAS DE MONOGRAFIAS

Lute para lidar de modo racional com esta escolha, pois dois erros são muito comuns:

- O primeiro é escolher um tema muito interessante, inovador, cheio de pontos ainda por explorar. O resultado, óbvio, é a impossibilidade de terminar seu TCC pela falta de elementos bibliográficos ou fundamentadores. Muitos estudantes tomam esta atitude por não pensarem nas conseqüências ou nas dificuldades posteriores ou ainda porque querem impressionar seus orientadores, amigos ou familiares.
- O segundo é o oposto, recaindo a seleção por um tema muito simples e “batido”, com várias bibliografias. Você pode passar por um aluno relaxado ou incapaz. Escolha “o caminho do meio”.
Na maioria dos casos, ninguém espera de você uma monografia a ser publicada em um jornal ou a ser vendida em livrarias, assim tente relaxar e curtir este momento de sua vida. Tenha fé em si mesmo e conte com a orientação e com bons livros. Assim, vença o medo inicial, bastante comum a muitos alunos, pois estes não sentem possuir a devida autoridade ou conhecimento sobre o que deverão tratar em suas monografias. Tenha fé em seu trabalho e sua capacidade, dentro da realidade do tema (lembre-se, o caminho do meio).
O medo comumente sentido por todo estudante, ao precisar escrever sua primeira monografia, geralmente no final do seu curso de graduação, independentemente do curso do mesmo, é praticamente universal. Uma monografia significa literalmente, escrita sobre um único tema.

Escolha de um TEMA


É de máxima importância saber escolher o tema da pesquisa. Artigos de jornais e revistas, conversações, comentários de colegas, debates, seminários, experiências pessoais e reflexões podem conduzir a bons temas de pesquisa. Boas leituras também podem conduzir a bons temas.
O assunto a ser abordado não deve ser fácil demais e também não deve ser muito complexo, deve ser adequado à possibilidades do pesquisador, sua disponibilidade de tempo, de recursos bibliográficos, etc. A pesquisa ou estudo deve apresentar alguma utilidade, alguma importância prática ou teórica.

A escolha de um tema deve ser feita segundo alguns critérios:
01 – A importância do tema (relevância)
02 – A facilidade de acesso à bibliografia sobre o assunto da pesquisa e outras fontes.
03 – Possibilidade de desenvolver bem o assunto, dentro dos prazos estipulados e afinidade com o tema.
04 – Delimitação da pesquisa: Tipo de pesquisa? Enfoque?
Após a definição destes critérios, a escolha do tema torna-se mais fácil e proporciona um começo organizado para a construção do trabalho.
Projeto de Pesquisa - O primeiro passo é a organização de um plano geral, especificando todas as suas partes. É a montagem do esquema do Projeto de Pesquisa. O planejamento inicial é sempre provisório, no decorrer do trabalho, sempre são necessárias algumas modificações. O importante é que se faça um plano, bastante minucioso, onde constarão todas as partes do trabalho. O planejamento serve para conduzir e orientar o processo de pesquisa, mas está sujeito a alterações e modificações de acordo com o necessário.

O QUE É RELATÓRIO SOCIAL, ESTUDO SOCIAL E PERÍCIA SOCIAL? QUAL A DIFERENÇA ENTRE LAUDO SOCIAL E PARECER SOCIAL?



ESTUDO SOCIAL – Processo metodológico de especificidade do assistente social, "..que tem por finalidade conhecer com profundidade, e de forma crítica, uma determinada situaçãoou expressão da questão social, objeto da intervenção profissional"( CFESS, 2007,p.42).

PERÍCIA SOCIAL– A perícia, quando solicitada a um profissional de Serviço social, é chamada de perícia social, recebendo esta denominação por se tratar de estudo e parecer cuja finalidade é subsidiar uma decisão, via de regra, judicial.Ela é realizada por meio do estudo social e implica na elaboração de um laudo e emissão de um parecer. para sua construção o profissional faz uso dos instrumentos e técnicas pertinentes ao exercício da profissão, sendo facultado a ele a realização de tantas entrevistas, contatos,visitas, pesquisa documental e bibliografia que considerar necessárias para análise e a interpretação da situação em questão e a elaboração de parecer.Assim, a perícia é o estudo social, realizado com base nos fundamentos teórico-metodológicos, ético-político e técnico operativo, próprios do serviço social, e com finalidade relacionada a avaliações e julgamento.(CFESS,2007,p.43-44)

RELATÓRIO SOCIAL- É referente a apresentação das atividades desenvolvidas na área de atuação do profissional( visitas domiciliares, informações e providências tomadas, bem como as suas justificativas) Seu conteúdo deve ir além do burocrático, contendo informações relevantes ao processo interventivo, não deve porém somente informar, mas explicitar as razões das ações(encaminhamentos) tomadas ou a serem realizadas. O relatório não se trata de um boletim informativo.(SIkorski, Daniela)Além de tudo, é interessante também saber o que pensam diferentes autores sobre o mesmo assunto, por isso irei postar o pensamento de 4 autores sobre estes assuntos. FIQUE ATENTO!!!

ESTUDO SOCIALO que nos diz:  MIOTO(2001) Para ela o estudo social é um instrumento para conhecer e analisar a situação vivida por determinados sujeitos ou grupos de sujeitos sociais sobre o qual fomos chamados a opinar(…) consiste numa utilização articulada de vários outros instrumentos(…) entrevistas individuais ou conjuntas, a observação, a visita domiciliar e análise de documentos.

FÁVERO(2003)Para ela é um processo metodológico específico do serviço social, tem a finalidade de conhecer com profundidade e de forma crítica, uma determinada situação ou expressão da questão social. Objeto de intervenção profissional(…)

FREITAS(2003)Para ele o estudo social consiste em coletar dados, a partir de instrumental definido pelo assistente social e interpretar esses dados a partir do referencial teórico elaborando opinião profissional sobre a situação.

MAGALHÃES(2004)Demanda leituras e conhecimento específico,exige uso de instrumentos apropriados de leituras,análises de tempo para avaliação e elaboração de texto.

PERÍCIA SOCIAL 

MIOTO (2001)Para ela a Perícia Social é um processo através do qual um especialista realiza exame de situações sociais com finalidade de emitir um parecer sobre a mesma. 

FÁVERO(2003)Para Fávero a perícia social é uma avaliação, exame ou vistoria solicitados ou determinados sempre que a situação exigir um parecer técnico ou científico, é o estudo social realizado com base nos fundamentos teórico-metodologicos, ético-político e técnico operativos próprios do serviço social e com finalidades relacionadas a avaliação e julgamentos.

FREITAS(2003)Freitas traz a perícia social como um processo pelo qual um especialista assistente social realiza um exame de situações sociais, com a finalidade de emitir um parecer, buscando a solução do caso periciado. é um meio probatório com o qual se intenta obter, para o processo uma manifestação fundada em conhecimentos científicos, técnicos.

MAGALHÃES(2004)Para Magalhães é um meio de prova consistente no parecer técnico de pessoas habilitada. São espécies de perícia: o exame, a vistoria e avaliação.

ENTENDENDO AS DIFERENÇAS ENTRE LAUDO E PARECER SOCIAL

LAUDO SOCIALmeio judiciário de “prova” com a finalidade de dar suporte à decisão judicial, formação de um juízo, exercício de faculdade de julgar, a qual se traduz em “avaliar, escolher, decidir”. O laudo resulta de um estudo mais minucioso e aprofundado sobre determinada problemática, que contem um parecer bem fundamentado acerca de determinada problemática atendida pelo profissional.O laudo oferece elementos de base social para formação de um juízo e tomada de decisão que envolve direitos fundamentais e sociais. Documento RESULTANDO de  PERÍCIA SOCIAL , ele apresenta o registro das informações mais significativas do estudo e da análise realizada, e o parecer social. NÃO NECESSITA EXPRESSAR DETALHAMENTO DOS CONTEÚDOS DO ESTUDO REALIZADO (salvo exceções).(CFESS, 2007)

Estrutura: se constitui por introdução que indica a demanda judicial e objetivos, uma identificação breve dos sujeitos envolvidos, a metodologia para construí-lo – especificidade da profissão e os objetivos do estudo-, um relato analítico da construção histórica da questão estudada e do estado social atual da mesma, e uma conclusão ou parecer social, que deve sintetizar a situação, conter uma breve análise crítica e apontar conclusões ou indicativos de alternativas, do ponto de vista do Serviço Social, isto é, que expresse o posicionamento profissional frente à questão em estudo.O estudo deve permanecer devidamente arquivado no espaço de trabalho do profissional.

PARECER SOCIAL– é uma das partes que integram o estudo social, onde o assistente social, tomando por base os dados coletados ao longo do estudo social, cuja análise sempre se dá a luz do referencial teórico, é onde o profissional expressa a sua posição técnica de como alguma situação em questão (que gerou o estudo social) poderá ser solucionado. (JESUS;ROSA;PRAZERES,2004)

O Parecer do Laudo ,difere do emitido no relatório em razão da maior visibilidade da análise profissional no corpo do texto. O relatório pode conter descrições ou informações e um parecer relativo ao que foi visto ou observado, nos moldes de “diante do exposto”, “considera-se importante”…, o que inclui também possíveis sugestões.

O Laudo, porém, exige uma análise mais aprofundada, em que a descrição serve de ponto de apoio às inferências do profissional quanto a problemática que está avaliando. Ele precisa ir além do descrito pura e simplesmente. Suas considerações extrapolam o descritivo e situam-se na análise feita. Não basta descrever situações, mas analisá-las à luz de conhecimentos específicos do campo de atuação, com a ponte necessária à identificação de uma ótica do saber.
FONTE:MAGALHÃES, Selma Marques. Avaliação e linguagem: relatórios, laudos e pareceres. São Paulo: Veras Editora,2003.
CFESS (Org.). O estudo social em perícias, laudos e pareceres técnicos. São Paulo: Cortez, 2003.
Para aprofundar o assunto recomendo os seguintes artigos: